(Alunos do curso de Ciências das religiões também estudam LIBRAS, abaixo um trabalho apresentado em sala de aula)
Aspectos Linguísticos e características da LIBRAS¹
Rivânia Carneiro, Agnise Martins,Thalisson Pinto,Rita Francisco,Verônica Silva, Gustavo Targino²
1 - Aspectos linguísticos da LIBRAS
Na língua de Libras utilizada pelas pessoas surdas um aspecto importante e primordial é o campo visual, aliado ao espacial, visto que são eles que dão "vida" aos gestos que são utilizados na conversa. Com isso, temos outro aspecto na língua de sinais que é a liberdade na linguística dos sinais, neste momento entra em ação as imagens icônicas (o sinal apresenta semelhança com o significado) ou arbitrário (não tendo semelhança com o conteúdo).
Na língua se sinais tão importante quanto os
sinais, são as expressões e movimentos feitos com a cabeça que são considerados
marcas não-manuais, pois só os sinais não são capazes de expressar totalmente o
que se quer dizer, ou melhor, as expressões aliadas aos gestos dão ênfase ao
sinal.
A língua de sinais esta presente em todos os
lugares em que tenha pessoas, pois devido a necessidade de comunicação vai
sempre existir uma forma dessa comunicação acontecer. Contudo, percebemos uma
diferenciação nestas línguas. No Brasil, temos a LIBRAS, Língua Brasileira de
Sinais e por sermos um país de extensão tão grande, já temos algumas diferenças
de estado para estado, o mesmo se dá de país a país.
A língua de sinais, como as outras línguas, sofre
alterações no seu vocabulário. Temos como exemplo, a tecnologia que envolve as
mídias sociais, internet, email etc. Estes vocábulos, foram inseridos no
contexto da língua de sinais. Outro exemplo são algumas mudanças que alguns
sinais sofreram ao longo do tempo, de forma normal como até mesmo nossa língua
oral e escrita portuguesa que sofreu mudanças em sua ortografia.
Como outra língua, a língua de sinais tem em sua
forma de composição de palavras que usa mais de um sinal para designar uma
sentença.
2 – A Língua de LIBRAS inclui segmentos sonoros
discretos, universais semânticos, formas para indicar tempo passado, negação,
pergunta; e todos podem aprender.
Na LIBRAS há segmentos
sonoros discretos, como as unidades constitutivas do sinal, que são:
-
Configuração de mão (CM)
- Ponto de
Articulação (PA)
- Movimento
(M)
-
Orientação (O)
-
Expressões não-manuais (ENM)
Na configuração de mão
temos a forma como a mão vai se posicionar para fazer o gesto, e há uma tabela
padrão com essas configurações.
No ponto de articulação
temos o posicionamento da mão em relação ao local do corpo onde o sinal é
feito, se próximo ao rosto ou ao tórax por exemplo.
O movimento pode ser circular, semi-circular, reto,
tem a ver com a direção do movimento que a sua mão vai fazer.
A orientação é a direção da mão, pode ser para
dentro, para fora, para cima, para baixo, para frente, para trás.
As expressões não manuais são um complemento para a
comunicação gestual, é a expressão do rosto, o movimento do pescoço e do corpo
de um modo geral que se faz enquanto se está realizando o gesto.
Em relação aos universais semânticos, que são
características que estão presentes em todas as línguas, como macho e fêmea,
aqui também os encontramos, e a diferença nos sinais está em relação a
codificação do traço. Também acerca das formas que indicam tempo passado,
negação, pergunta, comando, também temos aqui estas formas. E ainda os
universais sintáticos para formar sentenças estão presentes na língua de
sinais.
LIBRAS é uma língua como qualquer outra, e qualquer
pessoa pode aprender, seja adulto ou criança, e o seu aprendizado requer
atenção e disciplina, como também isto ocorre nas outras línguas.
3 - A língua de sinais é artificial?
Tem gramática?
A
Língua de Sinais nos últimos anos passa a ser reconhecida pela evolução
linguística construída pelos estudiosos entre eles destaco o americano William
Stokoe que em 1960 inova com contribuições da ciência, estruturando “a teoria
da língua de sinais” com padrão cultural e natural para a comunidade surda. No
entanto, essa nova perspectiva, possibilitou construir parâmetros universais da
linguística sendo “próprio”, ou seja, um modelo de língua específica para os
surdos, pois assim deveria ser considerada.
Com os avanços de pesquisas de estudiosos, a
língua de sinais torna-se identidade linguística, com suas próprias
características, tendo assim, um perfil adequado. GESSER (1971) publicou o
livro “Libras? Que língua é essa?” No qual descreve questionamentos e
posicionamentos da língua no contexto da linguística e da Língua em si como
modelo universal, porém discernido, as concepções que influenciam até os dias
atuais, tais como: a língua de sinais é Artificial? Tem gramática?
Com base no texto, pontuamos aspectos pela reflexão;
sobre o posicionamento do autor com relação aos dois questionamentos; o
primeiro refere-se ao contexto da língua e da importância da cultura como
elemento que interliga os aspectos estabelecidos pelos grupos sociais, sendo
assim, o autor aponta dois componentes de caráter dúplice, o esperanto como
língua oral e o gestuno como língua de sinais sendo considerados artificiais,
embora considerando a existência de práticas específicas construída pelas
diferentes “ideologias” das comunidades surdas, ao estabelecer esse padrão internacional, considerando que o
esperanto e o gestuno, segundo GESSER (1971, p. 13) precisam ser construídas e
planejadas de acordo com a referência da nação e da cultura inserida no
contexto.
A segunda questão o autor enfatiza o discurso
da gramática e do desenvolvimento linguístico, a partir de avaliações
gramaticais, fonológicas, morfológicas da língua de sinais. Usando alternativas
para a práxis no processo, ou seja, os cinco parâmetros, Configuração das Mãos, Pontos de Articulação Orientação e o Movimento Expressão Facial e/ou corporal, que
transmitem diretamente no posicionamento do emissor, corpo/espaço.
Com base nessa reflexão, é notório percebermos
que, a influência dos estudiosos e de pesquisas foram importantes para difusão
da língua de sinais na sociedade, “graças” a esse processo, houve
transformações frente ao pluralismo da cidadania e diversidade, pois com os novos parâmetros, temos os cursos de formação em educação de
surdo, demais licenciaturas e cursos superiores das instituições de ensino
público no Brasil são complementados com Libras no currículo. Essa afirmação,
fortifica nosso discurso ideológico de educação e das novas vigências legais,
podendo assim abrir o espaço direcionando ao trabalho da inclusão dos surdos na
família, escola e sociedade.
4 - A língua
dos surdos é MÍMICA?
O
autor apresenta resultados de estudos onde demonstra a diferença entre a mímica
e os sinais que em certas circunstâncias, no passado, foram utilizados pelos
surdos, usuários da Língua de Sinais Americana, mas que posteriormente
estabeleceram-se critérios para diferenciá-las. Ao ouvir tal pergunta
considera-a um tanto preconceituosa e relacionada a ela estão várias
nomenclaturas desagradáveis direcionadas aos surdos, o que o leva a alertar
para tais usos e também para as informações contidas em dicionários da Língua
Portuguesa que se propõe a definir e perpetuar conceitos negativos a língua dos
surdos, além das formas que são utilizadas para diminuírem o status da Língua
de Sinais, inferiorizando-a e comparando-a a mímica. Portanto, o autor responde
negativamente a questão, pois os estudos comprovam que a pantomima, ou seja, a
mímica, esforça-se para que a pessoa perceba o “objeto”, já na Língua de Sinais
o objetivo é fazer a pessoa perceber o símbolo estabelecido para esse objeto.
5 - A língua
de sinais é um código secreto dos surdos?
O tormento dos surdos com relação à
comunicação vem desde a antiguidade, pois, desde as priscas eras o preconceito
levava-os a serem considerados incompetentes, sem condição de pensar, doentes
mentais, preguiçosos, excluídos da sociedade, chegando ao absurdo de serem
usados em sacrifícios, jogados nas fogueiras, privados de se comunicarem
livremente através de sinais tendo, dessa forma, seus direitos desrespeitados a
começar pelos próprios familiares e pelas escolas que geralmente negavam esta
possibilidade, onde eram forçados a falar ou fazer leitura labial e castigados
fisicamente quando desobedeciam. É neste panorama de tirania, discriminação,
desvalorização e proibição que a sinalização passa a ser vista como um “código
secreto”, sendo usada as escondidas pelos surdos e considerada exótica, obscena
e agressiva por causa da exposição corporal que de fundamental importância para
sua expressão.
Todos os seres vivos tem sua maneira peculiar
de se comunicar, e pressupõe-se que o homem é o único dotado de uma língua.
Logo, se a língua de sinais não é considerada uma língua, certamente os surdos
não falam e consequentemente não são humanos... Ledo engano! Apesar da língua
de sinais ser comparada muitas vezes a comunicação dos chimpanzés e dos surdos
serem pensados como sem língua, estes, entre outros equívocos não foram
suficiente para exterminar a língua de sinais que sobreviveu até os dias atuassem
deixar nada a desejar para as línguas orais, uma vez que, além de muito bem
estruturada em todos os níveis, tem sua gramática própria, como também
características que lhe são típicas, tais como: criatividade, flexibilidade,
descontinuidade e arbitrariedade.
6 - A língua
de sinais é o alfabeto manual?
Não. Pensar nisso é acreditar que a língua de
sinais é limitada, pois demorar-se-ia muito para expressar um diálogo apenas
soletrando, porém há alguns casos que é permitido usar desse artifício:
·
Caso não exista um sinal para certa
palavra;
·
Nomes próprios de pessoas ou lugares;
·
Siglas;
Além de existir vários alfabetos espalhados
por diversos países, existe também alfabetos para surdo-cegos.
Deve-se ressaltar que o soletramento só é
compreendido, tanto para quem executa como para quem vê, apenas se ambos
tiverem conhecimento na língua oral de sua comunidade.
7 - A Libras
“falada” no Brasil apresenta uma unidade?
Não. Da mesma forma que existe sotaques
diferentes pelo Brasil, com relação a língua falada, também há sinais
diferentes com o mesmo significado, a depender da região.
Não existe “sinal errado”, deve-se entender
como uma variante da língua de sinais. A língua de sinais “passando de mão em
mão” pode adquirir novas formas, variações e sotaques.
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¹ Trabalho apresentado na disciplina de LIBRAS- Curso de Ciências das Religiões/UFPB
² Acadêmicos do Curso de Licenciatura em Ciências das Religiões-UFPB
REFERÊNCIAS
GESSER, Audrei. LIBRAS? Que língua é essa?
Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São
Paulo: Parábola Editorial, 2009.
SALLES, Heloisa Maria Moreira Lima. Ensino
de língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília:
MEC, SEESP, 2004.
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