Por Alexandre Venâncio da Silva
(Formado em História, graduando em Filosofia e mestrando em Ciências das Religiões - UFPB na linha de pesquisa "Religiosidade Popular". Professor do Ensino Fundamental, Médio e Superior.
Srī Adi Shankarāchārya celebre pensador da Índia medieval (788-820 d.c) metafísico e monge errante indiano, chamado também de Bhagavatpada Acharya (o mestre aos pés do Senhor), conseguiu restaurar o Dharma védico criando a filosofia do Vedanta que em sânscrito significa a “conclusão” (anta) dos vedas, ele ocupa um marco divisor na filosofia oriental principalmente indiana, tão quanto Sócrates e Kant para a filosofia do ocidente isso pelo grau de importância e sabedoria em seus trabalhos e ensinamentos. Vedas que significa (conhecimentos) é um dos mais antigos textos sagrados da Índia, Śankara desenvolveu o Advaita Vedanta isso lhe favoreceu a ocupar um lugar nas sucessões da ordem discípula e a atribuição de ser um dos importantes articuladores do moderno hinduísmo intelectual, organizador e primeiro chefe dessa organização com a sua habilidade dialética.
Śankara é considerado um dos primeiros Acharyas e a sua filosofia é conhecida de Kevaladvaita ou monismo puro. Nasceu em uma família humilde, perdeu seu pai ainda criança e logo saiu de casa a procura de um guru. No livro “A Jóia Suprema da Sabedoria” Śankara atribui aspectos fundamentais para a realização do ser, mostrando a importância de um guru na escolha e na orientação da sua qualificação, configura a doutrina do Veda e Brāhman, possibilitando a todos os seres a encontrar a sua energia espiritual na prática e na vida indiana.
Govinda Bhagvatpada, um discípulo proeminente do grande Gaudapada da reputação Mandukya karika foi que revelou a Śankara a espiritualidade e conceitos através de seus ensinamentos, participou de sua vida (marca direta que Śankara levou até a sua morte) a isso o filosofo retribuiu de maneira afetiva em algumas passagens encontrada no “A Jóia Suprema da Sabedoria”.
“Eu me prostro diante do verdadeiro Instrutor – diante daquele que é revelado pelas conclusões de todos os sistemas da filosofia Vedante, mas que em si é desconhecido, Govinda a suprema bem-aventurança.” Śankara (1992:15-1)
É evidente nesse trecho a aplicabilidade e qualidade de Śankara na sua apresentação ao seu mestre Govinda, ao deixar claro que o seu mestre edificará e lhe guiará ao caminho do espírito da sabedoria.
O interesse pela doutrina de Sannyasa sempre fez parte de sua vida, apesar de uma vida curta e bem dinâmica resultante de suas varias obras de correntes filosóficas, comentários canônicos e textos fantásticos, Śankara é considerado um dos mais importantes filósofos do Vedanta, deixando vários discípulos que deram continuidade aos seus ensinamentos. Por muitos séculos a tradição do debate oral na Índia sempre fez presentes, todos esses debates eram fundamentais para o florescimento filosófico quanto para o desenvolvimento das escolas representado pelo vencedor do debate, isso aumentava os méritos e a popularidade da escola. Śankara sempre foi um vencedor desses debates.
O desejo humano muitas vezes distancia o homem do mundo espiritual, do verdadeiro conhecimento e das virtudes. Posicionando a cair no erro e na ignorância. Mas esse mesmo desejo que passa a ser liberdade espiritual, pode sim transformar ao encontro com a essência da vida e do conhecimento.
“O alcançar do objeto depende da qualificação daquele que o deseja alcançar. Todos os artifícios e contingências que surgem das circunstancias do espaço e do tempo são meramente acessórios.” Śankara (1992:20-14)
Ao falarmos de desejo ao mundo do Advaita Vedanta é dizer que há uma inseparável força que movem o nosso espírito ao alcance do Real. Desejo esse que nos ajuda a acredita que somos capazes de vencer todos os obstáculos e correntes que nos prendem e sem ele não haveria esperança para realização do ser. Como diz o trecho acima que “o alcançar do objeto depende da qualificação...” é necessário nos livrar de todas as nossas vaidades, conceitos já formados que nos separa da vida espiritual.
“Portanto, aquele que deseja conhecer a natureza de seu próprio Ātma, após ter encontrado um Guru que obteve o conhecimento do Absoluto (Brahmajñāna) e seja de uma bondosa disposição, deve prosseguir com sua investigação.” Śankara (1992:20-15)
A pureza e o desejo de encontrar o seu próprio espírito (Ātma) não pertence a todos. Precisando libertar-se primeiramente das “qualidades” do mundo. Assim conseguira afastar-se dos sentidos impróprios e insolúveis acarretados de pura ignorância (avidyā) e esse sentido leva a acreditar que tudo esta perfeito. Śankara diz que o guru será importante a esse desejo. Por que nele já esta a revelação do Absoluto (Brahmajñāna), o amor infinito e a inspiração da libertação da ilusão (māyā).
Śankara foi um viajante bastante promissor, conheceu vários lugares e muitos outros pensadores, conseguiu estabelecer uma influência edificadora na sua doutrina, o Advaita Vedanta, comentador das Upanishads forneceu a filosofia oriental seu grande jargão. Ao entendermos o significado de Advaita que literalmente significa “não dois”, podemos também compreender o significado da essência dessa escola. Sabendo que o principal ponto de partida entre o pensamento indiano e a integridade de sua consciência, não, é descrever o mundo invisível e sim resgatar aquilo que ao decorrer de suas vidas foram descartados e deixado para trás. É nessa filosofia que o mundo e a mente encontram espaço, não de uma forma intelectual, mas, sim espiritual. A verdade está no silêncio além das palavras, pois a fé é uma das qualidades de desejo do aprendizado filosófico, um sentimento de pura valiosidade para os que começam a percebe na vida.
“As escrituras1 demonstram diretamente que Shraddhā (fé), bhakti (devoção), dhyāna (meditação) e yoga (união) são as causas que trazem a emancipação da servidão da existência encarnada [ a liberação das ligaduras do corpo, que são obras da magia de avidyā].” Śankara (1992:31-48)
Essa é a ordem que Śankara usa para nos conectar com a plenitude da vida. No principio a fé que nos faz sentir a sensação de algo Real, presente e concreto. A devoção vem como segundo nessa ordem, ficando encarregado de edificar o nosso interior, na devoção temos contato físico com aquilo que representa e edifica a fé. A fé e a devoção são a preparação para o nosso sentimento na meditação e ai que chegamos ao último estágio (yoga) a união de toda a ordem.
O Advaita adota uma doutrina cujo absoluto (Brāhman) é real e que o mundo é irreal. Qualquer manifestação, dualidade, pluralidade é dada ao absoluto com o poder do māyā. Esse absoluto aos olhos de Śankara é sem atributo, assim não há criação, tudo isso porque ele nega a existência de algo nesse absoluto. Mas esse absoluto é Real e a alma individual não é diferente do Absoluto. A explicação da ilusão cósmica provoca o surgimento do universo, sendo Avidyā (ignorância individual) responsável pelo o aparecimento absoluto, parecer ser uma multidão de almas individuas (Shivas).
1 Referência ao Kaivalya Upanishad, I, 2 (N.E).
“Somente é considerado digno de inquirir sobre o espírito [Brahman] aquele que tem discernimento, não tem apegos ou desejos, tem shama e as outras qualificações, e que possuem a vontade de emancipar-se.2 Śankara (1992:21-17)
Assim Śankara articula sua doutrina monista no Advaita Vedanta, mostrando que a nossa qualificação é primordial na busca da felicidade, ao encontro do Absoluto Real (Brāhman). Embora essa doutrina seja tão forte na Índia, existem posições “dualista’, nas quais Ātma e Brāhman são visto como separados.
2 Veja aforismo de nº 19 a 28. (N.E)
BIBLIOGRAFIA
Titulo do Original
VIVEKA – CHŪDĀMANI
CHATTERJI, Mohini M. Crest-Jewel of Wisdom da Edição de 1932. com texto em Inglês e Devanāgarīri The Theosophical Publishing House Adyar, Madras, Índia.
SANKARA. A JÓIA SUPREMA DA SABEDORIA. Comentários de Murillo N. de Azevedo. Brasília. Editora Teosófica, 1992.
PAZ, Octavio, Vislumbre da Índia. São Paulo, Ed. Mandarim, 1996.
AGRADEÇO AO PROFESSOR ALEXANDRE VENÂNCIO A COLABORAÇÃO PARA O BLOG
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